domingo, novembro 21
Da casa
quarta-feira, novembro 10
A minha gata...
terça-feira, novembro 9
A minha gata...
domingo, outubro 24
Da casa
Há dias assim, em que o recolhimento escapa pelas frinchas e, de súbito, o vento faz-se convidado e instala-se. Traz com ele o ruído, a agitação, os destemperos, o desarrumo, cheiros e frescura. Parece insistir na ideia de posto de observação contaminado pelo mundo. Acolhedor, portanto.
A minha gata...
Mudanças e hesitações
Entretanto, o muro caiu sem estrondo. Confirma o que venho dizendo, sem espectáculo, os leitores vão-se. E se por ali ainda se tentava o circo da opinião, por aqui é tudo tão íntimo que o interesse cai como folhas no outono: tudo castanho e lamacento.
Very Important News #07
quinta-feira, outubro 14
quarta-feira, outubro 13
A minha gata...
quarta-feira, outubro 6
terça-feira, outubro 5
Encontros #05
Acabo de almoçar com o Paulo e a Cristina. (Zé, tens razão: nomes próprios são melhor que siglas.) Nem todos os meus encontros são à mesa, mas muitos deles, talvez os mais intensos, acontecem aí. Se descobrir porquê, aviso. O Paulo é um companheiro de há mais de trinta anos, agora afastado para o interior, dedicado à terra nas salas da universidade, mas nunca afastado de mim. São muitas as palavras e os silêncios que nos unem. Hoje, misteriosamente passámos o tempo mastigando ideias sobre o núcleo duro ético que toma parte das religiões, para além do misticismo, o que aconteceu a propósito dos desejos de vingança e da gestão das nossas vidas (prosaicas) a partir das psicologias ou das astrologias. Dietas é outro dos temas, por ora, recorrentes e por isso houve chocolate e promessas de cabrito e outras delicadezas. Não trouxe respostas para os dilemas (prosaicos) e só guardo as promessas de receitas a provar. E a partilhar. Bem haja pela companhia e pelo prazer, digo eu. Prosaicamente.
Faz hoje anos que morreu o Júlio
Encontros #04 B
Na longa conversa com o Zé e com o Paulo brotou um dilema saboroso, a propósito de críticas desenhadas por Art Spiegelman (se alguém pedir, disponibilizo também a minha primeira leitura de In The Shadow of No Towers) à gestão bushista do mundo. A crítica especializada tende a enterrar os livros em estranhas apreciações que afastam leitores, demasiadas vezes passando ao lado dos temas em discussão. É como pegar em Maus, obra magna de Spiegelman dedicada ao Holocausto e à ralação com o seu pai, e começar por dizer que algures desenhou mal um cão. A forma joga aqui com o conteúdo de modo fulgurante. Neste livro, mais do que as questões teóricas e formais, que ele nunca abandona, interessa-me ler o modo como aquele criador reporta (e daquela maneira) um acontecimento que mudou o mundo (ou, pelo menos, a sua percepção). Os encontros de que aqui vos falo, embora para eu recordar, são de puro gozo partilhável.
Media Vaca
Leitores
domingo, outubro 3
Crítico Postal #03
A foto não vem assinada. E devia, embora nada mudasse. É uma foto de montanha. Isto é, de nuvem. Ou seja, de abismo. Ou melhor de vento, talvez voz. Só posso adivinhar-lhe o sentido, mas não asseguro. Nenhum sentido é seguro: ao baixo? Ao alto? O convite é para um livro, que há-de conter palavras e nelas acontecerão poemas de JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA. Esta voz é quase o vento. As vozes serão ouvidas no céu da boca de Lisboa, em breve. E as palavras com poemas por acontecer estarão disponíveis para entrar nas casas e nas vidas explodindo como vento. A foto é a preto e branco, como tudo o que é dramático. Como a câmara lenta que arrefece o movimento para sentirmos mais, com mais clareza, com a frescura da nuvem por dentro. A foto não está assinada, mas The Famous Grouse apoia.
sábado, outubro 2
Encontros #04
quarta-feira, setembro 29
A minha gata...
Sanfona
quarta-feira, setembro 22
Conas
Conos, de JUAN MANUEL DE PRADA (Fenda), é uma surpresa, mas não é por nada disto. E muito menos porque fala de assunto arredado das literaturas: as conas, pudicamente passadas a masculino na capa, mas muito mal passadas, digo eu. Até porque uma das qualidades do texto é a sua precisão, que, como é sabido, é sempre cirúrgica (e bem vertida foi no português de José Carlos González). Há qualquer coisa de médico na frase de Prada. É fria a sua aproximação ao assunto, mas sucessiva. Sem nunca repetir a perspectiva, olha de soslaio, mordisca o assunto e depois repete. Manuseia a ironia com um bisturi, um bisturi de papel vegetal. A transparência esconde, portanto, ideias – belas e sinistras ideias, quotidianas e fantasistas ideias, absurdas e belas imagens. O todo revela-se aqui nas partes, o que é sinónimo de arte breve: um início de conto, um haiku desenvolvido (túrgido?), uma reflexão esboçada. Mas chega para criar um ambiente, apresentar personagens e sugerir erotismos dos mais puros. Prazer aqui é o da frase, o da escrita, também ela em lógica erótica sem olhar a consequências, o que, em parte, é devedor do mestre homenageado RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA (o de Seios, Antígona). E não olha a consequências. Mas isso que interessa? Basta o enorme gozo e a perícia. Este livro é inclassificável, como o são, a princípio, as surpresas. Bendita esta estranheza que se solta das conas. Bendita esta vontade de aprender. Do conto Refutação de Henry Miller: “A espeleologia da cona exige métodos artesanais que aumentem a tremura fervorosa das mãos penetrando num recinto cheio de estalactites e estalagmites, embalado pelo musgo tépido da púbis, ressumante de líquidos e pudor”. Bendito pudor.
quinta-feira, setembro 16
terça-feira, setembro 14
Crítico postal #02
segunda-feira, setembro 13
Very Important News #06
Um qualquer Batman está pendurado perto de uma varanda alta em uma parede do Palácio de Buckingham. É um activista (fathers 4 justice) e pede para para falar com a Rainha. Será que ela o atende sem marcação? De qualquer modo, tem melhor gosto que ela, no que à roupa diz respeito.
Crítico postal #01
Um tabuleiro de xadrez, estático na dança de quadrados bicolores, na variação de formas agora ao alto. Dois casais enfrentam-se, olhando quem agora os olha. Espelhos, cadeiras, mesas de estilos variados mas anunciando pompa. Uma das mulheres, a única que se ergue, desafia-nos com o olhar: o pior dos desafios. Cada par de sapatos são outras tantas agulhas que prolongam o olhar até onde o permitirmos. Cabeças pequenas, rostos redondos, corpos sentados e desarmónicos, quase todos. Agulha, cada sapato como antena, braços de bússola, ponteiros de horas que deixaram de existir. O conjunto sofre de largo enquadramento de branco, desigual pois se trata de um rectângulo que absorve óleo sobre a tela. As cores são pastel e por isso vibra aquele rosa-choque que indica (autor) KONSTANTIN BESSMERTNY e (galeria) Monumental. Mais informação não se vê daqui, está no verso. Um convite é um apelo, um junte-se, um venha até aqui connosco, um venha ver, às tantas, um esperamos que compre. Este, com as suas cores frágeis sobre branco, sussurra: nós estamos aqui e aqui ficaremos indiferentes. A imagem, como a música, sabe bem mentir. Aparentemente estes nobres russos recebem bem, mas apenas para nos assassinar. É por isso que vou.
sábado, setembro 11
Sítios
Encontros #03
quinta-feira, setembro 9
Munch
quarta-feira, setembro 8
Imagens fortes
A partir de amanhã e até dia 20 de Novembro, a Biblioteca Nacional, em Lisboa, acolhe ilustrações de MARIA KEIL. São originais feitos para títulos que vão de Páscoa Feliz, de Miguéis, aos Anjos do Mal que lhe apareceram recentemente. Também se poderão ver muitas das suas ilustrações para a infância e juventude. Encantadoras, digo eu.
A partir de ontem e até ao final de Setembro, o Museo de la Ciudad, em Madrid, recebe EL ALMA DE ALMADA EL ÍMPAR. São ilustrações para as crónicas e contos do escritor espanhol Ramón Gómez de la Serna, nas revistas La Esfera e Nuevo Mundo, bd’s e tiras cómicas publicadas em igual período no Sempre Fixe e no El Sol, na coluna Maestros de la Historieta. Além da preciosidade que são os originais de ilustrações para o jornal madrileno ABC e para a revista Blanco y Negro, e os seis desenhos concebidos em 1929 para La Tragedia de Doña Ajada, uma orquestração de Salvador Bacarisse para poemas de Manuel Abril.
terça-feira, setembro 7
segunda-feira, setembro 6
Da minha janela
Vejo a GNR a treinar atirando as armas em estranho ballet, ao qual os gatos do quintal, muitos e de todas as cores, ficam indiferentes. Só os tiros, secos e da mesma cor, os despertam. Por instantes (só se pensa por instantes em tais temas...), penso nos acontecimentos mortais dos últimos dias. Poucas certezas tenho, mas esta de que não nenhuma superioridade é moral ficará comigo, no meu pequeno jardim, até ao fim dos dias.
quinta-feira, setembro 2
Very Important News #05
A minha gata...
sexta-feira, agosto 13
Encontros #02
Estive antes de anteontem com TM e aconteceu aquilo que se tornou um feliz hábito. Ainda que não preparemos projectos, o que era o caso, as conversas fazem com que nos entreguemos, nos impliquemos de modo a colocar sobre a mesa perspectivas, opiniões, sensações, filosofias domésticas e credos selvagens. Regresso sempre rejuvenescido destas viagens em torno de ideias ou imagens. É raro. Cada vez mais.
Encontros #01
Da casa
Da casa
quarta-feira, agosto 11
Da casa
Não é curioso? Pedem-me, para comprar um carro, que lhes prove que moro aqui, em casa. E se me recusassem a prova de vida, se garantissem com documentos que estou morto ou em parte incerta?
Da casa
Vejo daqui uma pele de pó sobre as coisas. Certas e quase secretas coisas que o sabem merecer, como um dom de tranquilidade.
Da casa
O Sol tem comido a ilustração atlética da casa de banho. Vou deixá-lo matar a fome de cor, quem sabe se não escrevo um conto sobre o assunto. O desperdício não me atormenta: o trabalho até está assinado, em italiano e no feminino.
Da casa
sexta-feira, agosto 6
Um dia como esta tarde
Mesma a esta, hora as sombras dançam o mambo. Só a música, só mesmo os dedos do pianista são capazes de indicar um caminho nas montanhas prediais cruzadas pelo rio do trânsito.
A minha gata...
quinta-feira, agosto 5
Very Important News #04
Apesar dos fogos, da devastação, da miséria, da tristeza, na Serra de Monchique foi confirmada a presença de borboletas-monarca. Segundo os especialistas, é de prever um aumento das colonizações nos próximos anos. Naturais do continente americano, estes símbolos da fragilidade migram do Canadá para o México, onde chegam no Dia dos Mortos, para passarem o inverno. É lá, a sul, que procriam.
In Memoriam: HENRI CARTIER-BRESSON (1908-2004)
quarta-feira, agosto 4
Cacos
segunda-feira, agosto 2
Recorte #02
«Como jogar com as palavras»
por JOÃO MIGUEL TAVARES
Diário de Notícias, 2 de Agosto de 2004
Com o lançamento do terceiro e quarto volumes, já se pode arriscar dizer que a série «Olho Vivo» - uma colecção de livros infantis lançada pelas Edições Afrontamento - é um dos espaços de experimentação mais interessantes do espaço editorial português, quer pela qualidade dos ilustradores convocados para o projecto, quer pelo investimento literário de João Paulo Cotrim.Quem se interessa pela banda desenhada portuguesa já terá esbarrado algures com Cotrim, seja como autor, seja como crítico, seja como organizador, seja sobretudo como director da Bedeteca de Lisboa, numa época saudosa em que ainda havia meios para trabalhar. Graças à sua acção, a BD portuguesa obteve um reconhecimento inédito e alcançou uma variedade e uma qualidade sem paralelo na sua história. Nos últimos anos, contudo, Cotrim tem vindo a desenvolver uma actividade sustentada como argumentista, tanto em livro como em projectos ligados a publicações periódicas (À Esquina, no jornal Público, e actualmente Crimes Exemplares, na Grande Reportagem, contando ambos com desenhos de Pedro Burgos).Cotrim é dono de um estilo floreado, onde os jogos de linguagem são uma constante e se espreme até ao caroço os vários sentidos das palavras. Em texto longos, este tom luxuriante correrá sempre o perigo de cair num excesso de barroquismo, mas o autor tem-se inteligentemente dedicado à história curta, produzindo ora obras enxutas, ora textos onde a elaboração da linguagem se mantém vigiada, no registo certo, apostando numa poetização do real - é isso que acontece nos dois livros para crianças de que aqui se fala, O Homem Bestial e Viagem no Branco.É desde logo motivo de admiração o facto dos quatro volumes da colecção «Olho Vivo» serem muitíssimo diferentes entre si, menos pela diversidade de estilos dos ilustradores do que pela inventividade de que Cotrim dá mostras em cada texto. Com a concisão de um haiku, O Homem Bestial parte de uma ideia que sendo simples está muito bem achada - a presença de nomes de animais na linguagem do dia-a-dia. Assim se contrói o «homem bestial», que tem «olhos de lince», usa «rabo de cavalo», corre «como uma lebre» e é «mais chato que uma melga». Os desenhos de Maria João Worme ilustram o texto de forma bastante directa, ainda que a complexidade do seu estilo possa causar algumas dificuldades aos mais pequenos.Já os desenhos de Miguel Rocha em Viagem no Branco são de mais fácil leitura, embora ele tenha optado por um registo estranhamento sombrio para um livro com tão alvo título. Aqui, é o texto de Cotrim que se complexifica, multiplicando os níveis de leitura. Desde «as árvores onde nascem as folhas de escrever» à rã descoberta no «b(r)anco», é todo um mundo poético que se abre aqui, com um toque surreal que resiste às apropriações de sentido. Francamente, não sei quantas crianças serão capazes de compreender isto, mas não há como negar o seu engenho.
O homem bestial Autores. João Paulo Cotrim e Maria João Worm Editora. Afrontamento Páginas. 32 Preço. 7,50 Classificação. ¢¢¢¢
Viagem no branco Autores. João Paulo Cotrim e Miguel Rocha Editora. Afrontamento Páginas. 28 Preço. 7,50 Classificação. ¢¢¢¢
sexta-feira, julho 30
Reflectório
quinta-feira, julho 29
Chumy e os epitáfios
Por falar em países vivos, trouxe da caliente Madrid o livro-catálogo dedicado pelo atentíssimo amigo Felipe Hernández Cava a Chumy Chúmez: el descreído imaginario. Chumy recebeu, no ano passado, a morte que andava a desenhar há tantíssimos anos. Essa é a primeira impressão a retirar do seu trabalho brutal, espalhado por algumas das melhores páginas vizinhas (La Codorniz, Hermano Lobo, ABC, Diario 16, etc.): a morte anda connosco desde que nascemos. Chumy Chúmez, que colocava um sol pequenino nos seus cartoons que às vezes parecia um buraco de bala, diz-nos que devemos dialogar o mais possível com essa companheira. Ele fê-lo, rindo do modo como vestia ou se comportava, daquele ar escanzelado com que nos aparece. A outra lição filosófica está na estranha relação que o desenhador teve com o seu país feito de países. Ao contrário do que diz personagem sua, que «os humoristas sabem rir-se das desgraças alheias», os humoristas verdadeiros fazem suas as desgraças dos outros. Chumy Chúmez achava que, mais do que piadas, o seu trabalho era fazer epitáfios.
Valerá a pena aplicar estes ensinamentos ao meu tristonho país, apesar de estar a léguas do humorismo (o meu sentido de humor é mais na base do sinto muito...)?
Capa minha amiga
(É grande a tentação, mas prometi a mim mesmo que só coloco imagens no regresso de férias, lá para Setembro. Resistirei?)
A minha gata...
Correio do Brasil
segunda-feira, julho 26
Mundo de músicas
sábado, julho 24
In Memoriam: CARLOS PAREDES (1925-2004)
quarta-feira, julho 21
Recorte #01
«4 blocos para viajar aos poetas »
Por PEDRO MOURA
Público.pt
Sábado, 13 de Junho de 2004
Num pequeno "guia orientador de leitura" intitulado Viajar nos Livros, editado pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas no ano de 2003, a autora Alice Vieira apresenta uma escolha de alguns livros indicados à leitura dos "mais jovens" que falem de viagens, umas mais inventivas que as outras ou que sirvam para viajar. Apesar da própria autora se precaver com a advertência de que qualquer selecção é "subjectiva", não pode essa servir de obstáculo a que se teçam críticas à mesma. E ainda que qualquer selecção possa ser discutível, a ausência de Alice (ou diria das Alices?) é um gritante silêncio. Tentativa de evitar a homonímia? Os novos livros escritos por João Paulo Cotrim também não se encontram nesta lista. Quero crer que se deve ao facto de serem todos demasiado tardios para terem sido incluídos na escolha - os dois primeiros, História de Um Segredo, com André Letria, e A Cor Instável, com Alain Corbel, são de Fevereiro de 2003. Mas algo me impele para um modo de ver que o critério da viagem pode ser sempre alargado... A discussão poderia começar com a afirmação de A. Vieira em que, "Infelizmente a literatura portuguesa não é muito rica em livros de viagens." Como? É verdade que poderão existir sub-categorias deste género literário mais representado que outros, essa afirmação não é verdadeira, tendo em conta o enorme e rico espólio desse mesmo género, aliás sobejamente estudado entre nós. A redução não deixou de ser feita.
Já na seguinte publicação do mesmo instituto, Portuguese Children's Books, em inglês para divulgação internacional (e a propósito de candidaturas portuguesas ao Hans Christian Andersen Award 2004), com uma selecção assinada em conjunto, mas com o indelével cunho de Luísa Ducla Soares, já surge A Cor Instável.
Estes quatro livros - para além dos já citados, há O Homem Bestial, com Maria João Worm, e Viagem no Branco, com Miguel Rocha - são apenas os primeiros editados na colecção Olho Vivo da Afrontamento, já que Cotrim promete ainda ofertar-nos mais uns quantos volumes, "para acentuar a ideia de colecção", diz o próprio. Canção da Rocha, da Onda e da Nuvem com Tiago Manuel e A Máquina das Asneiras com Pedro Burgos são para já promessas a cumprir, mas outros episódios que desdobrarão este projecto - de mais de cinco anos na calha - também se esperarão.
Será uma terrível redução dizer que estes são livros infantis; mas também não é daqueles casos em que se pode dizer que "tanto gostam os miúdos como os graúdos". Há aqui uma vontade de inaugurar uma porta relativamente nova. Em Portugal, poder-se-ão apontar variadíssimos registos de literatura versada para públicos mais jovens, os que começaram a ler faz pouco, os que querem aprender a ler mais, os que ouvem histórias lidas pelos pais. E existe uma grande diversidade e níveis de atenção. A publicidade continua, porém, a ser feita sobretudo aos ineptos e inanes livros que têm uma "lição", uma "moral" ou a partir do qual se poderá aprender a fazer qualquer coisa de "útil". Livros que pretendem sempre ensinar algo de imediatamente aplicável na mais chã das realidades e da vida das crianças.
Não é este o presente caso. A utilidade máxima destas quatro (e mais, como vimos) aventuras autoradas por João Paulo Cotrim e os desenhadores respectivos é a de viajar para dentro. Não quero com estas generalizações sobre o trabalho gráfico menosprezar, de forma alguma, o trabalho de cada um dos desenhadores, já que as parcerias foram sentidas e não ocasionais ou circunstanciais, sendo cada uma das pequenas narrativas especialmente bem associada à expressão gráfica típica de cada desenhador. O ponto de partida foi sempre uma relação pessoal de Cotrim com o desenhador em questão, e não se trata da prioridade de um criador sobre a de um outro, mas uma verdadeira experimentação de conversa criativa a dois.
Porém, se existe algum ponto em comum nos quatro volumes, é o movimento: um movimento contínuo, em espiral, cada curva e virar da página mais rico que o anterior, aparentemente uma repetição de uma ideia, mas já mudada no seu sabor. Move-se um segredo, move-se a cor, move-se a comparação.
Duas das histórias, nomeadamente A Cor Instável e Viagem no Branco, têm dois teoremas que se anulariam numa mesma plataforma: nomeadamente de que "nada é a preto e branco" e consequentemente "cada um pode ser arco-íris" e a de que "É à noite que deixa de haver coisas porque não há luar. No branco há imensa coisa!" Mas, para além do facto de que cada livro vale por si, e que os autores são livres de vestirem tanto a pele do lobo como a da ovelha, a verdade é que o contador de histórias aqui está próximo da fórmula introdutória clássica dos contos ciganos: "Era e não era." Porque o mundo é enorme e há espaço para tudo e para todos os seus contrários. O Olho Vivo de todos estes autores vai encantando-os a todos...
História de um segredo, A cor instável, O homem bestial, Viagem no branco.
AUTORES João Paulo Cotrim (textos) e, respectivamente, André Letria, Alain Corbel, Maria João Worm, Miguel Rocha (arte)
EDITOR Afrontamento
35, 33, 31, 29 págs., 7.50 Euros
quinta-feira, julho 15
Mais pobres
terça-feira, julho 13
Da casa
Amizade quente
segunda-feira, julho 12
A minha gata...
Rapazes de água
In Memoriam: MARIA DE LOURDES PINTASILGO (1930-2004)
Escapadela
O filme faz-se ao pé do meu regresso a casa. No largo, alguém continua a simular vezes sem conta o momento seguinte de um acidente violento. O homem careca desce a correr para o corpo que se projectou do carro. Grita-lhe o nome. Quase acredito que o choque brutal acabou de acontecer, algures entre o azul e o vermelho. Vejo, na varanda, um vulto branco expressionista.
Desgosto
domingo, julho 11
quarta-feira, julho 7
Palavras
domingo, julho 4
Sol e Sombra
Da casa
sábado, julho 3
Sophia
Meia idade para a frente
Very Important News #03
sexta-feira, julho 2
quinta-feira, julho 1
Very Important News #02
Very Important News #01
terça-feira, junho 29
Talvez
domingo, junho 27
Moscas
Não posso deixar que isto me estrague o futebol, até porque laranja é cor que anda por aí em festa.
sexta-feira, junho 25
quinta-feira, junho 24
A minha gata...
quarta-feira, junho 23
Para acabar de vez com o dia
Como se falasse de sexo, os projectos mais doidos, a crença numa maneira de escrever ou num logotipo de revista aconteciam em plena noite, jamais turvada pela lúcida liquidez da distância que tínhamos de andar ou do álcool que bebíamos. Pouco importava se era numa cave solar ou no fazer de caminhos sobre a mais alta colina de Lisboa, querer andava misturado com o fazer e por isso as longuiiiiiiiiiíssimas noites eram iluminadas pelo mais inesperado dos sons ou das imagens ou das palavras.
A noite dentro do trabalho por acabar, do escrever à mão, do bater à máquina, do passar ao computador há-de ser sempre a noite, ainda que o Sol ilumine de vermelho cada uma das telhas vermelho tijolo. Só a ausência de luz permite a solidão que origina a criação. E a preguiça, pois a noite é todas as noites inutilidade, ronha e desperdício, senão mesmo crime. Para que serve o sono senão para dar à alma uma oportunidade de preguiça? O descanso é a miséria do futuro, mas o trabalho é a ocupação dos tristes. O sono é uma derrota. De olhos abertos, quando os outros dormem é a máxima para os que, mesmo quando os candeeiros se apagam, lhe bastam os mínimos para se conduzirem pelas ruelas obscuras.
As confissões mais lamechas e tontas, as lágrimas mais sentidas são vertidas no coração da noite. Nessa altura, e só nessa, músculos como o coração se sabem soltar e exercitar. Somos mais fortes durante a noite, mas também somos mais nós. É por isso que choramos, quando a amizade nos fere ou quando a surpresa nos dá nós.
A vida sabe ser um enjoo e daí que os vómitos mais fundos, mas também os mais fecundos, sobre a humana condição, surjam nas navegações noctívagas. A sensação amarga de nos cuspirmos é uma metáfora do desejo. É tanta a vontade de abandonarmos o navio-corpo ou a viagem-vida que nos surpreendemos com a energia do rasgo, com a força que parece vir do nosso centro mais profundo, mas que é só estômago. A digestão dos dias também parece arrotar nos sonhos, mal a luz se ausenta para parte certa.
Por tudo isto, e mais alguma coisa, a noite é, como só no feminino, a suprema surpresa do amor, o sopro perfumado da inspiração, a mais fina concentração, a mais impossível das possibilidades. Por tudo isto vos digo que a noite está em vias de extinção, agora que ela chega de mansinho.
Descrição 06
segunda-feira, junho 21
Dia seguinte
A minha gata...
domingo, junho 20
Mais perguntas, afinal com resposta.
12. Porque é que abreviatura é uma palavra tão grande?
As palavras, como as heras, crescem para além dos pontos finais.
13. Porque é que as lojas 24 horas tem fechaduras nas portas? E já agora, porque é que tem portas?
Nunca se sabe o que chega na última hora.
14. Como é que se deita um boomerang fora?
Atirando-o para a fogueira.
15. Porque é que nos anúncios a pensos higiénicos, utilizam líquido azul?
O sangue menstrual é um produto de limpeza.
16. Depois de comer, os anfíbios precisam de esperar três horas para sair da água?
Trinta minutos é suficiente, o tempo líquido é diferente e o peixe digere-se bem.
17. Os sinais que dizem, “Proibida a entrada de animais, excepto cães-guia”, são para o cão ler ou para a pessoa cega?
Para os outros, que parecem cegos, não desatarem a ladrar. Os cães-guia vão a todo o lado sem pedir licença.
18. A gravidez de uma prostituta é acidente de trabalho?
Não, da mesma maneira que a de uma ginecologista também não o é. São profissões que trabalham em locais onde os outros têm prazer, apenas isso.
19. Qual é a ideia de esterilizar uma agulha a um condenado que vai receber a injecção letal?
Para que o Estado não fique com a consciência suja por mais esta morte "limpa".
20. Como pode o Pato Donald ter sobrinhos se não tem irmãos? !
Ora! É do jet-set de Cascais.
21. Porque é que um polícia deve dizer a um surdo-mudo quando o prende que ele tem o direito de ficar calado?
São os direitos inúteis da democracia: se o homem tem as mãos presas, não vai dizer nada contra si próprio.
22. Porque é que o Batman usa as cuecas por cima das calças?
Julgas que é fácil mijar em voo?
Parar para pensar
Desejo (quase) matinal
sábado, junho 19
Aritmética de morte
quinta-feira, junho 17
Perguntas, afinal com resposta.
1. Porque é que tudo junto se escreve separado, e separado se escreve tudo junto?
Porque nada nos separa da escrita.
2. Porque é que os números marcados por engano nunca estão ocupados?
Porque muitos são os chamados e poucos os que atendem.
3. Se a Barbie é tão popular, porque é que se tem de comprar todos os amigos?
Porque todos temos um preço, caro amigo.
4. Se uma das nadadoras de natação sincronizada se afogar, as outras também se afogam?
Claro, noblesse oblige. Pois se o inferno são os outros!
5. Se tentares falhar e conseguires, foi um fracasso ou um sucesso?
É a vida: um fracesso!
6. Se a “caixa negra” nunca se danifica com a queda do avião, porque é que todo o avião não é feito de “caixa negra”?
Porque precisa de voar. É mais fácil encontrar o erro (depois), que evitá-lo (antes).
7. Se os psíquicos conseguem adivinhar os números do totoloto, porque é que ainda estão todos a trabalhar?
Os jogos de azar não dão sorte a ninguém. A não ser aos donos do casino.
8. Como é que se escreve zero em numeração romana?
Com espada e de quadriga. Os números imperiais são brutos.
9. Porque é que os sumos de limão são feitos com aromas artificiais e os detergentes de loiça com limões verdadeiros?
Queres mesmo saber a verdade, encardido?
10. Porque é que os pilotos Kamikaze usavam capacete?
Para não morrerem antes da hora marcada e fora do lugar.
11.Uma tartaruga sem carapaça é sem abrigo ou está nua?
Nada disso. Trata-se de uma espécie rara, mais veloz do que a própria sombra.
quarta-feira, junho 16
Da casa
A B e C
terça-feira, junho 15
Castelo Negro
segunda-feira, junho 14
Da casa
Sargaçal
domingo, junho 13
A minha gata...
Vidinha
sábado, junho 12
Mundos na música
sexta-feira, junho 11
Palcos do tempo
quinta-feira, junho 10
A minha gata...
quarta-feira, junho 9
Carta aberta ao passaporte
terça-feira, junho 8
A minha gata...
TV UP
Nuvens que não passam
Da casa 01
Descrição 05
segunda-feira, junho 7
Lombada
Feira do Livro
sábado, junho 5
Achado, assim perdido
quinta-feira, junho 3
Alarme falso
Letra
quarta-feira, junho 2
Chocolate
terça-feira, junho 1
Uma capa
Descrição 04
Estas descrições migraram de outro lugar: http://muro.weblog.com.pt/