sexta-feira, julho 30
Reflectório
quinta-feira, julho 29
Chumy e os epitáfios
Por falar em países vivos, trouxe da caliente Madrid o livro-catálogo dedicado pelo atentíssimo amigo Felipe Hernández Cava a Chumy Chúmez: el descreído imaginario. Chumy recebeu, no ano passado, a morte que andava a desenhar há tantíssimos anos. Essa é a primeira impressão a retirar do seu trabalho brutal, espalhado por algumas das melhores páginas vizinhas (La Codorniz, Hermano Lobo, ABC, Diario 16, etc.): a morte anda connosco desde que nascemos. Chumy Chúmez, que colocava um sol pequenino nos seus cartoons que às vezes parecia um buraco de bala, diz-nos que devemos dialogar o mais possível com essa companheira. Ele fê-lo, rindo do modo como vestia ou se comportava, daquele ar escanzelado com que nos aparece. A outra lição filosófica está na estranha relação que o desenhador teve com o seu país feito de países. Ao contrário do que diz personagem sua, que «os humoristas sabem rir-se das desgraças alheias», os humoristas verdadeiros fazem suas as desgraças dos outros. Chumy Chúmez achava que, mais do que piadas, o seu trabalho era fazer epitáfios.
Valerá a pena aplicar estes ensinamentos ao meu tristonho país, apesar de estar a léguas do humorismo (o meu sentido de humor é mais na base do sinto muito...)?
Capa minha amiga
(É grande a tentação, mas prometi a mim mesmo que só coloco imagens no regresso de férias, lá para Setembro. Resistirei?)
A minha gata...
Correio do Brasil
segunda-feira, julho 26
Mundo de músicas
sábado, julho 24
In Memoriam: CARLOS PAREDES (1925-2004)
quarta-feira, julho 21
Recorte #01
«4 blocos para viajar aos poetas »
Por PEDRO MOURA
Público.pt
Sábado, 13 de Junho de 2004
Num pequeno "guia orientador de leitura" intitulado Viajar nos Livros, editado pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas no ano de 2003, a autora Alice Vieira apresenta uma escolha de alguns livros indicados à leitura dos "mais jovens" que falem de viagens, umas mais inventivas que as outras ou que sirvam para viajar. Apesar da própria autora se precaver com a advertência de que qualquer selecção é "subjectiva", não pode essa servir de obstáculo a que se teçam críticas à mesma. E ainda que qualquer selecção possa ser discutível, a ausência de Alice (ou diria das Alices?) é um gritante silêncio. Tentativa de evitar a homonímia? Os novos livros escritos por João Paulo Cotrim também não se encontram nesta lista. Quero crer que se deve ao facto de serem todos demasiado tardios para terem sido incluídos na escolha - os dois primeiros, História de Um Segredo, com André Letria, e A Cor Instável, com Alain Corbel, são de Fevereiro de 2003. Mas algo me impele para um modo de ver que o critério da viagem pode ser sempre alargado... A discussão poderia começar com a afirmação de A. Vieira em que, "Infelizmente a literatura portuguesa não é muito rica em livros de viagens." Como? É verdade que poderão existir sub-categorias deste género literário mais representado que outros, essa afirmação não é verdadeira, tendo em conta o enorme e rico espólio desse mesmo género, aliás sobejamente estudado entre nós. A redução não deixou de ser feita.
Já na seguinte publicação do mesmo instituto, Portuguese Children's Books, em inglês para divulgação internacional (e a propósito de candidaturas portuguesas ao Hans Christian Andersen Award 2004), com uma selecção assinada em conjunto, mas com o indelével cunho de Luísa Ducla Soares, já surge A Cor Instável.
Estes quatro livros - para além dos já citados, há O Homem Bestial, com Maria João Worm, e Viagem no Branco, com Miguel Rocha - são apenas os primeiros editados na colecção Olho Vivo da Afrontamento, já que Cotrim promete ainda ofertar-nos mais uns quantos volumes, "para acentuar a ideia de colecção", diz o próprio. Canção da Rocha, da Onda e da Nuvem com Tiago Manuel e A Máquina das Asneiras com Pedro Burgos são para já promessas a cumprir, mas outros episódios que desdobrarão este projecto - de mais de cinco anos na calha - também se esperarão.
Será uma terrível redução dizer que estes são livros infantis; mas também não é daqueles casos em que se pode dizer que "tanto gostam os miúdos como os graúdos". Há aqui uma vontade de inaugurar uma porta relativamente nova. Em Portugal, poder-se-ão apontar variadíssimos registos de literatura versada para públicos mais jovens, os que começaram a ler faz pouco, os que querem aprender a ler mais, os que ouvem histórias lidas pelos pais. E existe uma grande diversidade e níveis de atenção. A publicidade continua, porém, a ser feita sobretudo aos ineptos e inanes livros que têm uma "lição", uma "moral" ou a partir do qual se poderá aprender a fazer qualquer coisa de "útil". Livros que pretendem sempre ensinar algo de imediatamente aplicável na mais chã das realidades e da vida das crianças.
Não é este o presente caso. A utilidade máxima destas quatro (e mais, como vimos) aventuras autoradas por João Paulo Cotrim e os desenhadores respectivos é a de viajar para dentro. Não quero com estas generalizações sobre o trabalho gráfico menosprezar, de forma alguma, o trabalho de cada um dos desenhadores, já que as parcerias foram sentidas e não ocasionais ou circunstanciais, sendo cada uma das pequenas narrativas especialmente bem associada à expressão gráfica típica de cada desenhador. O ponto de partida foi sempre uma relação pessoal de Cotrim com o desenhador em questão, e não se trata da prioridade de um criador sobre a de um outro, mas uma verdadeira experimentação de conversa criativa a dois.
Porém, se existe algum ponto em comum nos quatro volumes, é o movimento: um movimento contínuo, em espiral, cada curva e virar da página mais rico que o anterior, aparentemente uma repetição de uma ideia, mas já mudada no seu sabor. Move-se um segredo, move-se a cor, move-se a comparação.
Duas das histórias, nomeadamente A Cor Instável e Viagem no Branco, têm dois teoremas que se anulariam numa mesma plataforma: nomeadamente de que "nada é a preto e branco" e consequentemente "cada um pode ser arco-íris" e a de que "É à noite que deixa de haver coisas porque não há luar. No branco há imensa coisa!" Mas, para além do facto de que cada livro vale por si, e que os autores são livres de vestirem tanto a pele do lobo como a da ovelha, a verdade é que o contador de histórias aqui está próximo da fórmula introdutória clássica dos contos ciganos: "Era e não era." Porque o mundo é enorme e há espaço para tudo e para todos os seus contrários. O Olho Vivo de todos estes autores vai encantando-os a todos...
História de um segredo, A cor instável, O homem bestial, Viagem no branco.
AUTORES João Paulo Cotrim (textos) e, respectivamente, André Letria, Alain Corbel, Maria João Worm, Miguel Rocha (arte)
EDITOR Afrontamento
35, 33, 31, 29 págs., 7.50 Euros
quinta-feira, julho 15
Mais pobres
terça-feira, julho 13
Da casa
Amizade quente
segunda-feira, julho 12
A minha gata...
Rapazes de água
In Memoriam: MARIA DE LOURDES PINTASILGO (1930-2004)
Escapadela
O filme faz-se ao pé do meu regresso a casa. No largo, alguém continua a simular vezes sem conta o momento seguinte de um acidente violento. O homem careca desce a correr para o corpo que se projectou do carro. Grita-lhe o nome. Quase acredito que o choque brutal acabou de acontecer, algures entre o azul e o vermelho. Vejo, na varanda, um vulto branco expressionista.