quinta-feira, fevereiro 17

Trilateral #01

Um triângulo de amigos resolve, de súbito e a despropósito, encontrar-se com regularidade apenas para comer. Não partilham nem clube de futebol, nem género literário ou sexual, para não dizer já perspectivas geográficas (bom, estas...) ou económicas. Chegam não muito cansados de sítios assaz distintos para se sentarem à mesa dos assados (sem excluir grelhados ou refogados). Começou assim e nisto apenas pelo comer, mas logo se tornou bastante mais, apesar de menos na aparência: encontro sem outro sentido além desse mesmo, juntos à mesma mesa (por vezes duas juntinhas a fazer de conta), conversa solta sem agenda, pretexto para repetir a interrupção das agendas. Hoje falámos de política, mas foi sem exemplo, que nada nos interessa para lá de amizade e de uma ou outra notícia, como da inusitada exposição dedicada aos Lugares de Santiago. São assim as conversas, juro. Saudámos de passagem um tal de Júlio Pinto, co-fundador do Grupo de Lazer Heterossexual, em resposta a certo Grupo de Trabalho Homossexual, nos idos de 1990, quando o politicamente correcto começava a roer as canelas da mesa.
O pretexto da comida partilhada levou-nos já, e para dar apenas dois exemplos, ao Sem Maneiras ou ao Tavares Rico, ainda no tempo do José Avillez. Hoje foi a vez da Tasca da Esquina, projecto, como agora se diz, do Vitor Sobral. Nem todos os petiscos nos levaram ao paraíso (que fica longe do parlamento), mas aponta-se como momento supremo (e repetível) o atum quase cru em molho avinagrado. Vale por si só a viagem ao bairro de quadrícula, pessoano ou nem tanto.
Não possui, contudo, aquele sentido de tasca que nos obrigaria a ficar na esquina a ver o resto do dia a passar, a desperdiçar-se, a desfazer-se. Para tasca está demasiado presa de horários, de expedientes e modos, diria, obreiristas de fazer. Sobra ainda que, pelo preço de um Bushmills mal servido, bebo uns quatro noutras tascas de outras esquinas. Não me olhem assim, que por tal me não parecer despiciendo diz bem do que trago do sítio. Quero eu dizer que, noutras esquinas, o mesmo preço não me parece caro.

Retrato do Porto, minúsculo ardendo

Admito que outras cidades aconteçam assim no nosso coração, mas cada ida ao Porto obriga-me a digestões difíceis, não apenas por causa das tripas, dos afectos ou do granito. Esta cidade mantém um modo de conservar segredos à frente dos olhos que a desmultiplica como quem refaz, nunca do mesmo modo, uma velha receita. Aqui há uns tempos reencontrei em casa vermelha afastada do centro um velho amigo dos de todos dias, dos de antes como dos de mais adiante. Chorei durante o abraço não tão longo como me apetecia, fingindo assim daquelas normalidades que detesto. Diz-me agora outra voz amiga, nesta cidade de cruzamentos entre o que fica e o que flui, que devia vencer preconceitos e ignorâncias (no geral, irmãos gémeos) e espreitar no Soares do Reis a exposição do Artur Loureiro. Fui, sem resistir a passear-me antes (e depois...) pela exposição permanente que inclui humidades e outros fungos(deixo algumas impressões duradouras para comentário posterior). Atenho-me agora no Artur Loureiro, que se gostava de apresentar como pintor fracassado. Ora os fracassos e seus mentores, deste ou de outro modo, interessam-me por razões muito íntimas, mas este fantasma fica, também ele e por agora, afastado desta visita.
Impressionaram-me tanto, mas mesmo muito, e para além de um barco e de uma certa paisagem com rio (não por acaso, claro; tudo minúsculo, claro), os seus auto-retratos (plenos de ironia e luz, mágoa com deleite). Não sendo fácil encontrar no gesto o espelho exacto que revela sombra e luz e, portanto, humanidade, com o que esta sabe misturar de claridade e obscuridade (o Porto é cidade tão humana!), o pintor que seja capaz de se entregar na tela resolve aos meus olhos esse problema da ciência, aquele da dança amorosa entre objecto e sujeito. Artista que seja capaz, como Artur Loureiro, de se deixar esmagar pelo seu próprio olhar objectivando com suprema subjectividae projecta-se muito para lá do sucesso, incarna o enigma de Agamben: «contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o raio de trevas proveniente do seu tempo». Loureiro, sei-o agora, foi tão ou mais contemporâneo que os seus, apesar da paisagem. E isso nota-se mais ainda e com ironia nos retratos que dois amigos lhe dedicaram, Abel Salazar e Columbano Bordalo Pinheiro: são ardentes e difíceis, rasgados e minúsculos, como malagueta ou uma cavilha de Páscoa, isto para começo de conversa.

segunda-feira, fevereiro 14

Estamos velhos!

Pois estamos, sem ganhar com isso particular sabedoria: estamos cada um por si, cegos, velhos e já mortos. Com a visão profética de uma poesia que se rasga muito para além do umbigo, Paulo da Costa Domingos leu estes dias na sua mais recente plaquete (que pode ser encontrada aqui no meio de outros antigos), e que leva por título brutal, O Homem Quase Novo.

De Vala Comum:

«[...]
olham pendentes para ambos os lados, param,
urinam-se, mesmo inertes são seres,
compêndios de dinâmica, arma
à beira de explodir na indiferença urbana
e, pois não!: civilizada. Devagarinho
arrastam uma réstea de sol, só memória,
só impulsão de cadáver para a superfície
de uma saia que passa, e voltam-se...
[...]

Os velhos, ó se estamos sempre a gritar-lhes,
piores que crianças, pelo contrário.»

Avarias #01

A avaria de um Porsche também é mais prestigiada e potente e rápida que as outras? Três sem-abrigo empurram para cima do passeio sob chuva intensa um Porsche (parece Carrera, mas seguramente cabriolet). Toda a cena me parece tintada de humilhação, mas deve ser ou dos meus olhos ou da água.

sexta-feira, fevereiro 11

Nos cinquenta anos do Júlio Moreira: DESFAZENDO CONTAS À VIDA? TEM TEMPO.

Este texto começa mal, começa sem a nossa intervenção, como melodia brasileira zarpando, antes do sol nascer, antes do guionista chegar para chupar picolé, nota que ele, o texto, insiste em «gravar como» (ai que saudade, deixa para lá), numa ânsia de arquivista pergunta a data e o modelo, propondo para início de conversa datas e um programa, obrigando-me a lhe explicar que viemos de longe, que este texto se começou escrevendo em bairro que era um quarto, quando o agoiro se fazia contra todas as tropas, meu caro exaustor de consciência. Nota como perdemos: os militares estão por todo o lado, nos discurso da esquerda, nos cromos que elegemos, nos modos como nos relacionamos, em cada sovaco se acoita um militar de baixa patente e alta ambição.
Senta-te, meu, amachuca a prosa e bebe comigo uma água para me amarrar, deixa que te diga que venho com a incumbência de te abraçar antes da queda (um gin, agora, por favor), chego do lado de baixo de equador, dessa rua estreita onde as putas vendem conceitos na vez de cona, toca aqui comigo este tambor de chocolate com jindungo, discute o picante de sabotar todas as polícias que farejam o gosto, quem é você?, adivinha se gosto de você, se senta e se apresenta poeta e engenheiro das carcaças que são hoje o chão que pisamos, com queijo e fiambre sem matar fome ou sede. Começámos a nascer juntos , quando o verbo era reflexivo, quando as causas eram apenas isso, mesa onde nos sentávamos como quem ergue e constrói discussões, conversas, uma mão, a desdita e tantos olhares, modos de vencer o sono a tempo de chegar à lua ou vencer o sandokan, coisa de cuspir afinando a voz e apurando penteado.
Reparo agora que choro nisto e para abrir o fim do papel sobre o qual montaste casa, fico triste por causa das folhas, da máquina de escrever que os nossos irmãos detectives (poetas que disparam interpretações, as mais profundas) trocaram por álcool destilado perto de casa (causa é uma casa, já pernoitei na tua causa, gravar como). Sei que gostas na narrativa, de ardis e da lei com ardis para te delatar e contravenções, bandido infeliz, mas o relâmpago da poesia vem intrometer-se como política cultural nas virilhas de um criador: coça mas não desce, arde sem que suba.
Desculpa tu, meu irmão, o que costumamos partilhar é riso, e com ele percorremos as nossas cidades, a que são tantas vezes a mesma: amigos vivem sempre nos mesmos mapa, que a casa é um papel onde desenho um modo de abrir, de entrar, de sentar de dormir e rir. És daí e sou daqui, norte e talvez sul, mas adoro o modo como só nós e a amizade dobramos mapas e encolhemos distâncias, puxa assunto: vejo um rio à procura de onde desaguar para que alague um universo agora feito de quadradinhos e onomatopeias, mas pode ser teatro ou jazz. Deixa lá, disto nem todos os rios percebem, que as cidades servem para explicar aos transeuntes onde está a luz e o negrume, cada um em seu verso da folha que o detective (loura de nylon e sangue a esvair-se em refrão cantado no palco do Rivoli) rasga fingindo que não lê. Tu és dos que lês, com um olhar que é de adeus bem-vindo, o gesto mais difícil de compor neste bailado dos vencidos (venha um uísque, que está na hora).
A mão direita procura o copo que tantas vezes funciona como rato e cursor. Olho para os meus dias tristes, faço contas, e os meus olhos procuram o rato antes de chorar. Fizemos, meu Júlio, o teclado onde nos deitamos com uns sonhos que são, todos e cada um, um imenso despertar. Vem foder com sotaque aqueles cabrões fluorescentes que não percebem que viver na rua firmeza exige arrancadores presos ao tecto da imagem que voa, que ameaça, que resmunga, que arranha. E por isso te beijo: andas por aí nas canções que a nossa amizade trauteia a servir uma cidade íntima de versos e desenhos, mas de forma calada: grita agora, grita comigo, connosco no meio de um século apenas cheio de inícios e madrugadas exuberantes.

A FACE OCULTA DA TERRA: Nuno Teotónio Pereira: a minha homenagem

Imperdível, este comovente depoimento do Raul Henriques sobre um dos construtores da nossa terra comum.

A FACE OCULTA DA TERRA: Nuno Teotónio Pereira: a minha homenagem

Casas de pasto e outra de repasto

A cidade escama como a serpente, mais ainda no Porto onde os prédios penteiam escamas de granito do alto das suas varandas antigas. Ainda assim não contava que a sinuosa Cunha deixasse de o ser para se converter ao open space e, o que é pior, ao buffet. Na vez de um recanto perdido nos anos 1970, pequenas assoalhadas para quatro com mapple acolchoando a passagem das horas ou o balcão onde a solidão era devidamente servida, vive agora o burburinho dos engravatados comendo depressa com telemóvel na mão. Perdi um lugar de comunicação com outros tempos e talvez daqui não venha mal ao mundo. Também não resultará grande bem. No Abadia, um clássico, conheci o Cozido à Francesa, em tudo igual À Portuguesa com excepção do feijão que é branco e cozido por junto com as couves. A riqueza das carnes gordas foi uma oração ao conforto da simplicidade. Perto, muito perto há uma ilha chamada Bolhão. O castiço Pombeiro apresentou-me uma paradoxal raia à Lavrador, temperada com broa, e que dormitou no forno em cama de cebola. Um petisco com muitas raízes na mais fundo de nós, dança de subtilezas e texturas. A cortiça das paredes defendeu-nos das notícias.
Já a Casa Aleixo me surgiu sobrevalorizada, e por isso desconfortável, muito por via de um arroz do mesmo seco e salgado a acompanhar as doses de filetes (de pescada ou polvo) anunciadas como pantagruélicas mas afinal banais.
Aniversário de que falarei (ou não) levou-me ainda mais perto da fundação da nacionalidade, à Tertúlia Castelense, no Castelo da Maia, casa de briqueabraque com programação variada de música, café-teatro e muito mais. Além do mais, acolhe um gato meigo que se roça no fim das noites, mal a poeira pousa no veludo das velharias e na patine dos cartazes. Não se pode classificar como segredo.

terça-feira, fevereiro 8

Almirante Reis

Que me desculpem os meus ilustres ilustradores, mas só Roland Topor poderia fazer o retrato do meu herói, vencido apesar de vitorioso. (Ou talvez o Tiago Manuel, se para tanto inventasse novo heterónimo). Almirante Reis suicidou-se (ao que parece, pois a História mai-las suas leituras não se prantam quedas) por avaliar a realidade a seu desfavor durante uma revolução. A realidade raramente está a favor dos que imaginam mundos outros. A toponímia do país celebra esta estória de um modo único: gravado nos mapas como os destinos na mão, há por todas as cidades e vilas uma praça, uma rua ou avenida que traz o nome daquele que escolheu ganhar a morte quando algumas vidas se perdiam.

Mundos de verde

A minha cidade, sem nunca ter deixado de o ser, está mais cosmopolita. Não tanto pelo presidente da sua câmara vir "morar" para o fundo da Almirante Reis (aplauso: a política também se faz destes gestos), a via mais directa para as distintas culturas de que é feito o nosso tecido urbano, mas porque na Alameda voam gritando bandos de papagaios. As alterações do clima funcionam em todas as direcções: ainda hei-de beber umas cervejas (pretas e irlandesas) com pinguins no Cockpit.

segunda-feira, fevereiro 7

Do lado de cá...

Enquanto Camané se cantava, muito perto, demasiado perto, a Carminho trauteava. Alheios, alguns telemóveis acendiam-se à procura do tempo ou de uma foto proibida. A plateia de notáveis sem razões para isso ardia baixinho.

Brutais levezas

Não devia haver semana depois de uma noite como esta, que afinal até foram umas quatro. Camané surgiu da escuridão sentado à mesa para cantar «Do Amor e dos Dias». Apesar de ter à mão um telefone de baquelite, não houve emergência de registo, tudo decorreu como o cenário de gosto retro sussurrava: estávamos em casa contemporânea cheia de passados, na sala-de-estar ou no escritório-de-sair, mas com quarto-de-ir-e-vir ao fundo, e as cordas (guitarra, baixo e viola) rangiam enquanto a voz imensa enchia cada recanto do São Luiz e dos ouvintes pasmados. Quem diz voz, diz poesia, fosse a de Cesário Verde celebrando a lubricidade e os olhos maiores que bibliotecas ou a de David Mourão-Ferreira chorando abandonos e a imensa noite. Nem o cenário nem a ligeira encenação esmagaram a espontaneidade, antes sublinharam o enigma. Que tem Camané que o faz tão perturbante? Vem do fado, que canta a tristeza, a solidão, até o amor e portanto a vida, com uma ironia única (sim, sabemos que estamos condenados, que a miserável felicidade pouco importa, mas o destino obriga-nos à viagem repetida e banal pelo que devemos cantar ou ouvir ou calar e sofrer de novo e assim mergulhando nos afastamos um pouco mais resistindo). Vive o fado, mas dobrando-lhe as palavras, as métricas, os ênfases de um modo que o projecta muito para além das suas poses, dos seus rituais, como fazem os seus joelhos antes de atirar aos céus os versos finais. Dá-lhe mundo, com a sua mundividência. Ouvimos Camané para nos entristecer? Para nos alegrar? Sim e não, para tocar a vida por instantes.

sexta-feira, fevereiro 4

Sul e sal

O ano começou com estrondo, mal o Paulo Barriga chegou à direcção do Diário do Alentejo e encheu uma página com a ilustração da Susa Monteiro a propósito do Manuel da Fonseca. As paisagens também dependem dos afectos e estes três são dos que dançam ao sabor do vento na minha seara muito pessoal. Era apenas prenúncio que se vem confirmando sexta após sexta. Não falo da atenção à História e à cultura, das reportagens de quotidiano com gente dentro ou da «Vitória vitória, conta a tua história», página de putos, tão arredados dos nossos jornais. Falo de uma atenção que vai sendo rara, esta que abre a edição de hoje com um curto-circuito entre os acontecimentos do outro lado do mar comum e os nossos dias: uma entrevista a Adel Sidarus, que enquadra, e a memória que compara as Bejas, portuguesa e tunisina, por Santiago Macias e António Cunha. Lá longe pode ser aqui à mão de semear.

A minha gata...

...cheira todas as portas fechadas. Julgo saber o que elas guardam, as portas, mas será mesmo assim? Há sempre um enigma do lado de lá de uma porta fechada. Os gatos sabem-no, a minha di-lo com os olhos e um miado.

A minha gata...

…não dorme nunca sem deixar activa uma pequena orelha trémula, periscópio das sonolências. Profundo o sono apenas quando se sabe coberta. E o meu olhar não a protege, incomoda-a.

a paragem irrequieta

Nem quero saber dos motivos, certamente assentes em profundíssimos estudos e sentados nos mais luzidios estudos técnicos, mas retiraram-me a paragem de autocarro da frente da janela. Perco sem apelo nem agravo o singelo drama quotidiano de quem corre, de quem fica, dos impacientes, das velhas que falam sozinhas mesmo por junto, dos beijos apaixonados, longos e breves, das discussões acaloradas, dos distraídos, dos breves leitores (do jornal da seita, sobretudo, dos horários e percursos), dos altos e gordos, dos miúdos irrequietos, dos que se abraçavam ao poste, dos que abanavam o poste; todos e cada um pintados por sacos de plástico e de computador, malas de contrafacção, óculos de sol e de ver o longe aqui perto, casacos de cabedal cool e brincos brilhando em brutal gama de tons e materiais; tendo por invariável banda sonora o concerto de telemóvel sobrepondo-se a travagens de autocarro e ambulâncias ao fundo. Vi até quedas, momentâneas embora. Não recordo vedetas. Deixou de parar aqui a paragem, pelo que o observador invisível tem na vidinha menos teatro do outro.
A não ser que se mude para junto de outra paragem qualquer.

quinta-feira, fevereiro 3

Mozambique

Fui a Moçambique usando o Ibo, assente ali perto do rio do meu país, com citação de Álvaro de Campos a morder-me os pés. A leveza do caril de caranguejo, apenas um exemplo, fez-me esquecer que estava num restaurante, antes me atirou para viagem cheia de subtilezas e memórias de paisagens (íntimas) onde nunca estive. Perfumes e sabores misturando-se na palavra equilíbrio, com a ponte por perto. Para primeira experiência, sabe muito bem. O rio da minha aldeia há-de ser sempre picante.

terça-feira, fevereiro 1

Fevereiro, primeiro

Que me faz regressar a sítio tão esquecido, entre a cortina e a vidraça? Encosto a gordura da pele à superfície do vidro e invoco S. O'Neill. Daqui te saúdo, mandando versalhada de parabéns em atraso ao Cabrita-do-sul.

AUDITORIUM DE VAREJEIRAS

que gozo me dá
sem nódoa ou mágoa
ver que a rima surreal
não evitou a modos que nos anos anões
esta passagem
na lombada lambida pelo sol
de castanho a verde
terá o astro rei carcomido o popular amarelo?
mas as legendas das curtas brilham ainda de negro
entre a cortina e a vidraça
de cada página que dorme entre par e ímpar

tu que escrevivias como apóstrofe
abrindo espaços siderais
entre as letras
que zonzo ainda me deixas