terça-feira, outubro 4

poema ou assim #02

Para o Manuel San Payo, urso maior que só brilha à noite

BUNNY
bocado original:
nascemos cada dia com
nó na garganta
procuramos lugar onde depositar
o soluço

quem canta percebe melhor:
não há nem pode haver
andaime ou ensaio
apenas o peito a encher-se
cada qual ardendo antes d’
a voz
que o há-de consumar

quem pinta sabe-o bem:
o sítio tra veste-se de tela ecrã tablete
como o lugar se ergue casa da cor
onde recebe
cor pos pincéis olh ares
para morar só de passagem


&
tenho a barba
traz tu a cerveja

rompeu um pátio no meu peito
onde o azul descansa do chicote das
árvores
agora que os pássaros adoptaram as
cobras


BEAR
as mãos
abrindo a cortina da novidade
permitem que a paisagem
entre com tudo ainda fechado
nem choro nem riso
apenas paisagem:

no topo nascente além dos
prédios
com os passeantes tatuados nos
seios
vê-se a cidade que grita
à esquerda de quem amachuca o mapa
enquanto os outros se perdem
de novo na cave
sangrenta dos segundos

congelado e quieta fica
a paisagem
enquanto
dos dedos do pianista
dos dedos do pintor
escorrem
respirações suspiros
de quem vai
porque o dia voltou a nascer
& o aguarda um companheiro


não são pares
os olhos, as mãos, os pés?