Livros há que são armadilhas. Talvez os bons sejam os que nos apanham desprevenidos algures: no momento em que avançamos pela acção fora, esquecidos já do fio das frases, líquido ou áspero, quando levamos o soco no estômago de uma evocação, uma ténue lembrança, uma reflexão ou apenas a reverberação de cristal da palavra na folha. Na múltipla escolha das vidas, também livros que nos batem mais tarde, sem explicação aparente, para nos iluminar um momento, aquecer uma tristeza ou, por comparação, que a complexidade do que vivemos está toda ali, na simplicidade de uma cena.
Conos, de JUAN MANUEL DE PRADA (Fenda), é uma surpresa, mas não é por nada disto. E muito menos porque fala de assunto arredado das literaturas: as conas, pudicamente passadas a masculino na capa, mas muito mal passadas, digo eu. Até porque uma das qualidades do texto é a sua precisão, que, como é sabido, é sempre cirúrgica (e bem vertida foi no português de José Carlos González). Há qualquer coisa de médico na frase de Prada. É fria a sua aproximação ao assunto, mas sucessiva. Sem nunca repetir a perspectiva, olha de soslaio, mordisca o assunto e depois repete. Manuseia a ironia com um bisturi, um bisturi de papel vegetal. A transparência esconde, portanto, ideias – belas e sinistras ideias, quotidianas e fantasistas ideias, absurdas e belas imagens. O todo revela-se aqui nas partes, o que é sinónimo de arte breve: um início de conto, um haiku desenvolvido (túrgido?), uma reflexão esboçada. Mas chega para criar um ambiente, apresentar personagens e sugerir erotismos dos mais puros. Prazer aqui é o da frase, o da escrita, também ela em lógica erótica sem olhar a consequências, o que, em parte, é devedor do mestre homenageado RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA (o de Seios, Antígona). E não olha a consequências. Mas isso que interessa? Basta o enorme gozo e a perícia. Este livro é inclassificável, como o são, a princípio, as surpresas. Bendita esta estranheza que se solta das conas. Bendita esta vontade de aprender. Do conto Refutação de Henry Miller: “A espeleologia da cona exige métodos artesanais que aumentem a tremura fervorosa das mãos penetrando num recinto cheio de estalactites e estalagmites, embalado pelo musgo tépido da púbis, ressumante de líquidos e pudor”. Bendito pudor.
Conos, de JUAN MANUEL DE PRADA (Fenda), é uma surpresa, mas não é por nada disto. E muito menos porque fala de assunto arredado das literaturas: as conas, pudicamente passadas a masculino na capa, mas muito mal passadas, digo eu. Até porque uma das qualidades do texto é a sua precisão, que, como é sabido, é sempre cirúrgica (e bem vertida foi no português de José Carlos González). Há qualquer coisa de médico na frase de Prada. É fria a sua aproximação ao assunto, mas sucessiva. Sem nunca repetir a perspectiva, olha de soslaio, mordisca o assunto e depois repete. Manuseia a ironia com um bisturi, um bisturi de papel vegetal. A transparência esconde, portanto, ideias – belas e sinistras ideias, quotidianas e fantasistas ideias, absurdas e belas imagens. O todo revela-se aqui nas partes, o que é sinónimo de arte breve: um início de conto, um haiku desenvolvido (túrgido?), uma reflexão esboçada. Mas chega para criar um ambiente, apresentar personagens e sugerir erotismos dos mais puros. Prazer aqui é o da frase, o da escrita, também ela em lógica erótica sem olhar a consequências, o que, em parte, é devedor do mestre homenageado RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA (o de Seios, Antígona). E não olha a consequências. Mas isso que interessa? Basta o enorme gozo e a perícia. Este livro é inclassificável, como o são, a princípio, as surpresas. Bendita esta estranheza que se solta das conas. Bendita esta vontade de aprender. Do conto Refutação de Henry Miller: “A espeleologia da cona exige métodos artesanais que aumentem a tremura fervorosa das mãos penetrando num recinto cheio de estalactites e estalagmites, embalado pelo musgo tépido da púbis, ressumante de líquidos e pudor”. Bendito pudor.
1 comentário:
el coño e la polla trocam género mas mantêm papeis
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