sexta-feira, agosto 13
Encontros #02
Estive antes de anteontem com TM e aconteceu aquilo que se tornou um feliz hábito. Ainda que não preparemos projectos, o que era o caso, as conversas fazem com que nos entreguemos, nos impliquemos de modo a colocar sobre a mesa perspectivas, opiniões, sensações, filosofias domésticas e credos selvagens. Regresso sempre rejuvenescido destas viagens em torno de ideias ou imagens. É raro. Cada vez mais.
Encontros #01
Da casa
Da casa
quarta-feira, agosto 11
Da casa
Não é curioso? Pedem-me, para comprar um carro, que lhes prove que moro aqui, em casa. E se me recusassem a prova de vida, se garantissem com documentos que estou morto ou em parte incerta?
Da casa
Vejo daqui uma pele de pó sobre as coisas. Certas e quase secretas coisas que o sabem merecer, como um dom de tranquilidade.
Da casa
O Sol tem comido a ilustração atlética da casa de banho. Vou deixá-lo matar a fome de cor, quem sabe se não escrevo um conto sobre o assunto. O desperdício não me atormenta: o trabalho até está assinado, em italiano e no feminino.
Da casa
sexta-feira, agosto 6
Um dia como esta tarde
Mesma a esta, hora as sombras dançam o mambo. Só a música, só mesmo os dedos do pianista são capazes de indicar um caminho nas montanhas prediais cruzadas pelo rio do trânsito.
A minha gata...
quinta-feira, agosto 5
Very Important News #04
Apesar dos fogos, da devastação, da miséria, da tristeza, na Serra de Monchique foi confirmada a presença de borboletas-monarca. Segundo os especialistas, é de prever um aumento das colonizações nos próximos anos. Naturais do continente americano, estes símbolos da fragilidade migram do Canadá para o México, onde chegam no Dia dos Mortos, para passarem o inverno. É lá, a sul, que procriam.
In Memoriam: HENRI CARTIER-BRESSON (1908-2004)
quarta-feira, agosto 4
Cacos
segunda-feira, agosto 2
Recorte #02
«Como jogar com as palavras»
por JOÃO MIGUEL TAVARES
Diário de Notícias, 2 de Agosto de 2004
Com o lançamento do terceiro e quarto volumes, já se pode arriscar dizer que a série «Olho Vivo» - uma colecção de livros infantis lançada pelas Edições Afrontamento - é um dos espaços de experimentação mais interessantes do espaço editorial português, quer pela qualidade dos ilustradores convocados para o projecto, quer pelo investimento literário de João Paulo Cotrim.Quem se interessa pela banda desenhada portuguesa já terá esbarrado algures com Cotrim, seja como autor, seja como crítico, seja como organizador, seja sobretudo como director da Bedeteca de Lisboa, numa época saudosa em que ainda havia meios para trabalhar. Graças à sua acção, a BD portuguesa obteve um reconhecimento inédito e alcançou uma variedade e uma qualidade sem paralelo na sua história. Nos últimos anos, contudo, Cotrim tem vindo a desenvolver uma actividade sustentada como argumentista, tanto em livro como em projectos ligados a publicações periódicas (À Esquina, no jornal Público, e actualmente Crimes Exemplares, na Grande Reportagem, contando ambos com desenhos de Pedro Burgos).Cotrim é dono de um estilo floreado, onde os jogos de linguagem são uma constante e se espreme até ao caroço os vários sentidos das palavras. Em texto longos, este tom luxuriante correrá sempre o perigo de cair num excesso de barroquismo, mas o autor tem-se inteligentemente dedicado à história curta, produzindo ora obras enxutas, ora textos onde a elaboração da linguagem se mantém vigiada, no registo certo, apostando numa poetização do real - é isso que acontece nos dois livros para crianças de que aqui se fala, O Homem Bestial e Viagem no Branco.É desde logo motivo de admiração o facto dos quatro volumes da colecção «Olho Vivo» serem muitíssimo diferentes entre si, menos pela diversidade de estilos dos ilustradores do que pela inventividade de que Cotrim dá mostras em cada texto. Com a concisão de um haiku, O Homem Bestial parte de uma ideia que sendo simples está muito bem achada - a presença de nomes de animais na linguagem do dia-a-dia. Assim se contrói o «homem bestial», que tem «olhos de lince», usa «rabo de cavalo», corre «como uma lebre» e é «mais chato que uma melga». Os desenhos de Maria João Worme ilustram o texto de forma bastante directa, ainda que a complexidade do seu estilo possa causar algumas dificuldades aos mais pequenos.Já os desenhos de Miguel Rocha em Viagem no Branco são de mais fácil leitura, embora ele tenha optado por um registo estranhamento sombrio para um livro com tão alvo título. Aqui, é o texto de Cotrim que se complexifica, multiplicando os níveis de leitura. Desde «as árvores onde nascem as folhas de escrever» à rã descoberta no «b(r)anco», é todo um mundo poético que se abre aqui, com um toque surreal que resiste às apropriações de sentido. Francamente, não sei quantas crianças serão capazes de compreender isto, mas não há como negar o seu engenho.
O homem bestial Autores. João Paulo Cotrim e Maria João Worm Editora. Afrontamento Páginas. 32 Preço. 7,50 Classificação. ¢¢¢¢
Viagem no branco Autores. João Paulo Cotrim e Miguel Rocha Editora. Afrontamento Páginas. 28 Preço. 7,50 Classificação. ¢¢¢¢