quarta-feira, setembro 29
A minha gata...
Sanfona
quarta-feira, setembro 22
Conas
Conos, de JUAN MANUEL DE PRADA (Fenda), é uma surpresa, mas não é por nada disto. E muito menos porque fala de assunto arredado das literaturas: as conas, pudicamente passadas a masculino na capa, mas muito mal passadas, digo eu. Até porque uma das qualidades do texto é a sua precisão, que, como é sabido, é sempre cirúrgica (e bem vertida foi no português de José Carlos González). Há qualquer coisa de médico na frase de Prada. É fria a sua aproximação ao assunto, mas sucessiva. Sem nunca repetir a perspectiva, olha de soslaio, mordisca o assunto e depois repete. Manuseia a ironia com um bisturi, um bisturi de papel vegetal. A transparência esconde, portanto, ideias – belas e sinistras ideias, quotidianas e fantasistas ideias, absurdas e belas imagens. O todo revela-se aqui nas partes, o que é sinónimo de arte breve: um início de conto, um haiku desenvolvido (túrgido?), uma reflexão esboçada. Mas chega para criar um ambiente, apresentar personagens e sugerir erotismos dos mais puros. Prazer aqui é o da frase, o da escrita, também ela em lógica erótica sem olhar a consequências, o que, em parte, é devedor do mestre homenageado RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA (o de Seios, Antígona). E não olha a consequências. Mas isso que interessa? Basta o enorme gozo e a perícia. Este livro é inclassificável, como o são, a princípio, as surpresas. Bendita esta estranheza que se solta das conas. Bendita esta vontade de aprender. Do conto Refutação de Henry Miller: “A espeleologia da cona exige métodos artesanais que aumentem a tremura fervorosa das mãos penetrando num recinto cheio de estalactites e estalagmites, embalado pelo musgo tépido da púbis, ressumante de líquidos e pudor”. Bendito pudor.
quinta-feira, setembro 16
terça-feira, setembro 14
Crítico postal #02
segunda-feira, setembro 13
Very Important News #06
Um qualquer Batman está pendurado perto de uma varanda alta em uma parede do Palácio de Buckingham. É um activista (fathers 4 justice) e pede para para falar com a Rainha. Será que ela o atende sem marcação? De qualquer modo, tem melhor gosto que ela, no que à roupa diz respeito.
Crítico postal #01
Um tabuleiro de xadrez, estático na dança de quadrados bicolores, na variação de formas agora ao alto. Dois casais enfrentam-se, olhando quem agora os olha. Espelhos, cadeiras, mesas de estilos variados mas anunciando pompa. Uma das mulheres, a única que se ergue, desafia-nos com o olhar: o pior dos desafios. Cada par de sapatos são outras tantas agulhas que prolongam o olhar até onde o permitirmos. Cabeças pequenas, rostos redondos, corpos sentados e desarmónicos, quase todos. Agulha, cada sapato como antena, braços de bússola, ponteiros de horas que deixaram de existir. O conjunto sofre de largo enquadramento de branco, desigual pois se trata de um rectângulo que absorve óleo sobre a tela. As cores são pastel e por isso vibra aquele rosa-choque que indica (autor) KONSTANTIN BESSMERTNY e (galeria) Monumental. Mais informação não se vê daqui, está no verso. Um convite é um apelo, um junte-se, um venha até aqui connosco, um venha ver, às tantas, um esperamos que compre. Este, com as suas cores frágeis sobre branco, sussurra: nós estamos aqui e aqui ficaremos indiferentes. A imagem, como a música, sabe bem mentir. Aparentemente estes nobres russos recebem bem, mas apenas para nos assassinar. É por isso que vou.
sábado, setembro 11
Sítios
Encontros #03
quinta-feira, setembro 9
Munch
quarta-feira, setembro 8
Imagens fortes
A partir de amanhã e até dia 20 de Novembro, a Biblioteca Nacional, em Lisboa, acolhe ilustrações de MARIA KEIL. São originais feitos para títulos que vão de Páscoa Feliz, de Miguéis, aos Anjos do Mal que lhe apareceram recentemente. Também se poderão ver muitas das suas ilustrações para a infância e juventude. Encantadoras, digo eu.
A partir de ontem e até ao final de Setembro, o Museo de la Ciudad, em Madrid, recebe EL ALMA DE ALMADA EL ÍMPAR. São ilustrações para as crónicas e contos do escritor espanhol Ramón Gómez de la Serna, nas revistas La Esfera e Nuevo Mundo, bd’s e tiras cómicas publicadas em igual período no Sempre Fixe e no El Sol, na coluna Maestros de la Historieta. Além da preciosidade que são os originais de ilustrações para o jornal madrileno ABC e para a revista Blanco y Negro, e os seis desenhos concebidos em 1929 para La Tragedia de Doña Ajada, uma orquestração de Salvador Bacarisse para poemas de Manuel Abril.
terça-feira, setembro 7
segunda-feira, setembro 6
Da minha janela
Vejo a GNR a treinar atirando as armas em estranho ballet, ao qual os gatos do quintal, muitos e de todas as cores, ficam indiferentes. Só os tiros, secos e da mesma cor, os despertam. Por instantes (só se pensa por instantes em tais temas...), penso nos acontecimentos mortais dos últimos dias. Poucas certezas tenho, mas esta de que não nenhuma superioridade é moral ficará comigo, no meu pequeno jardim, até ao fim dos dias.