Uma folha de papel, mas poderia ser de aço desde que não brilhasse. Singela. Arrancada ao bloco, assim o denuncia a irregularidade esburacada do topo. Um traço a lápis, à régua, muito próximo da margem diz-me que o papel não começa onde parece, não começa no início do papel, mas onde o artista quer. O artista assina ST, singelamente. O traço é uma figura de traço que desenha, primeiro, um corpo, simples como letra, segurando um frasco de tinta, com a mão esquerda. Na direita tem uma caneta de aparo, que vem riscando. O frasco não tem tampa. Reparo no nervoso do traço: possui a segurança da ideia e o sabor da espontaneidade. A figura está no centro de tudo, perdida nas suas duas dimensões, fundo e corpo para sempre unidos apesar do contorno. O ser que desenha está incompleto. A sua identidade esconde-se por detrás do gesto: o rabisco arabesco que parece assinatura faz as vezes de cabeça (perdida) e rosto (desfeito). Steinberg desenhou, pelo menos desde os longínquos anos 40, inúmeras variações do tema: alguém que se risca, alguém que se desenha, alguém que se assina. Às vezes, o frasco da tinta dizia “INK”.
Estas descrições migraram de outro lugar: http://muro.weblog.com.pt/
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