domingo, junho 13

Vidinha

Não é o primeiro amigo admirado com a minha «recente blogomania». Mas este é um navegante experiente destas águas em rede que me diz serem os blogues, com uma ou outra excepção, «uma perda de tempo assinalável». Não acha piada ao Muro, por razões de opinião política, parece-me. Diverte-se com os Crimes. E este? «É mais melancólico que a tua gata – ou és tu? É engraçado que contrasta bastante com a imagem que tenho de ti, cheio de projectos e dinâmico qb.» São questões pertinentes, os blogues e o que faço dos meus dias. No primeiro caso, eu próprio estou admirado e confesso que não sei quanto tempo aguentarei. Resisti muito até que, sem pensar nas consequências, arrisquei fazer aqui o sempre adiado diário, para o qual não tinha arranjado ainda vontade ou disciplina. É certo que a versão blogue ganha certas características e perde outras. Mantém o registo de detalhes destinados a perderem-se, introduz o tempo mais pausado da reflexão. Todavia, por ser imediato e aberto, alguns dos temas com cabimento em diário de papel devem aqui ser filtrados. Também pede sugestões informativas, na ilusão de participar no tempo real e na realidade deste tempo. Não conto que fique assim, apenas a boiar na melancolia. A intenção é «tudo e mais alguma coisa» na mais libertária lógica associativa. Logo veremos. O meu dinamismo é, tantas vezes, aparente. É certo que me sinto bem na interacção e na concretização, mas invisto valor particular na ideia e na palavra projecto para a aplicar sem mais nem menos. E dou-me muito bem fazendo rigorosamente nada. Aliás, anseio por isso. Talvez me deixe levar em demasia pelas ondas da vida, que teimo em ver como oportunidades. A agenda enche-se logo com compromissos sempre em falta, trabalhos dos quais acabo por retirar pouco prazer ou realização. Tenho momentos em que anseio por um horizonte para perseguir até ao fim, assim a modos como um destino. Isto cansa-me sobremaneira, surgindo-me como uma preguiça de decidir. E noutras alturas percebo a grande inutilidade de tudo. Diz este meu amigo, aliás muito pouco social cuja vida vista de fora me parece acertada e em bom caminho, ao contrário da minha que é muito vacilante e dispersa, que tem «um mood altamente flutuante ao ritmo não sei de quê e que não percebeu se são as depressões que trazem realizações ou se são as realizações que me deprimem.» Depressão é uma palavra clínica, que está demasiado presente nos nosso vocabulários. Os trabalhos de viver não se resolvem no médico e o mood depende a cada instante da música que se ouve.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim, mas lembra-te também que é sempre mais verde a relva do vizinho. -- JRF