terça-feira, junho 1
Uma capa
Não falarei do conteúdo, do miolo. Uso o belo título de Rodrigues Miguéis, «A Amargura dos Contrastes», para falar desta capa em nome de todas as outras que Vasco Rosa resolveu dar às recolhas com que O Independente em celebrando um qualquer aniversário. Na sobrecapa, a lombada e a contra-capa vão de amarelo, interrompido apenas pelo branco do rosto. E de rostos se trata, pois o lugar central é ocupado pela arte de André Carrilho, ele que apanha como ninguém a essência de uma personagem, de um autor, de uma pessoa. Carrilho vem no interior dos corpos. Migués fuma, olha a três quartos, através de grandes óculos, para um qualquer horizonte, cabelos a raiar de branco, como branca é a camisa sobre o fundo. Cada letra está no sítio certo, ao centro a dizer o brandamente o essencial, por sobre a figura solitária. Miguéis foi um pensador solitário, vestiu elegâncias de branco e olhou para além da amargura. É raro encontrar assim tudo, em capa dura, neste equilíbrio de contrastes: letra, desenho e espaço.
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