sexta-feira, fevereiro 4

a paragem irrequieta

Nem quero saber dos motivos, certamente assentes em profundíssimos estudos e sentados nos mais luzidios estudos técnicos, mas retiraram-me a paragem de autocarro da frente da janela. Perco sem apelo nem agravo o singelo drama quotidiano de quem corre, de quem fica, dos impacientes, das velhas que falam sozinhas mesmo por junto, dos beijos apaixonados, longos e breves, das discussões acaloradas, dos distraídos, dos breves leitores (do jornal da seita, sobretudo, dos horários e percursos), dos altos e gordos, dos miúdos irrequietos, dos que se abraçavam ao poste, dos que abanavam o poste; todos e cada um pintados por sacos de plástico e de computador, malas de contrafacção, óculos de sol e de ver o longe aqui perto, casacos de cabedal cool e brincos brilhando em brutal gama de tons e materiais; tendo por invariável banda sonora o concerto de telemóvel sobrepondo-se a travagens de autocarro e ambulâncias ao fundo. Vi até quedas, momentâneas embora. Não recordo vedetas. Deixou de parar aqui a paragem, pelo que o observador invisível tem na vidinha menos teatro do outro.
A não ser que se mude para junto de outra paragem qualquer.

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