sexta-feira, fevereiro 11

Casas de pasto e outra de repasto

A cidade escama como a serpente, mais ainda no Porto onde os prédios penteiam escamas de granito do alto das suas varandas antigas. Ainda assim não contava que a sinuosa Cunha deixasse de o ser para se converter ao open space e, o que é pior, ao buffet. Na vez de um recanto perdido nos anos 1970, pequenas assoalhadas para quatro com mapple acolchoando a passagem das horas ou o balcão onde a solidão era devidamente servida, vive agora o burburinho dos engravatados comendo depressa com telemóvel na mão. Perdi um lugar de comunicação com outros tempos e talvez daqui não venha mal ao mundo. Também não resultará grande bem. No Abadia, um clássico, conheci o Cozido à Francesa, em tudo igual À Portuguesa com excepção do feijão que é branco e cozido por junto com as couves. A riqueza das carnes gordas foi uma oração ao conforto da simplicidade. Perto, muito perto há uma ilha chamada Bolhão. O castiço Pombeiro apresentou-me uma paradoxal raia à Lavrador, temperada com broa, e que dormitou no forno em cama de cebola. Um petisco com muitas raízes na mais fundo de nós, dança de subtilezas e texturas. A cortiça das paredes defendeu-nos das notícias.
Já a Casa Aleixo me surgiu sobrevalorizada, e por isso desconfortável, muito por via de um arroz do mesmo seco e salgado a acompanhar as doses de filetes (de pescada ou polvo) anunciadas como pantagruélicas mas afinal banais.
Aniversário de que falarei (ou não) levou-me ainda mais perto da fundação da nacionalidade, à Tertúlia Castelense, no Castelo da Maia, casa de briqueabraque com programação variada de música, café-teatro e muito mais. Além do mais, acolhe um gato meigo que se roça no fim das noites, mal a poeira pousa no veludo das velharias e na patine dos cartazes. Não se pode classificar como segredo.

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