sábado, junho 19

Aritmética de morte

O relatório da comissão de inquérito norte-americana aos atentados de 11 de Setembro tem vários detalhes assombrosos do ponto de vista político, mas não é nessa discussão que quero entrar. A guerra tem milhares de anos e práticas, numerosos teóricos e celebrados praticantes, e a violência mais ainda. Talvez não haja, portanto, surpresa nesta cena de uma macabra peça. Algures numa base da Al-Qaeda, no Afeganistão, «os recrutas eram livres de pensar criativamente em formas de cometer assassínios em massa». Excluamos agora a ideológica escolha das palavras, para nos concentrarmos nesta tenebrosa imagem de um brainstorming de morte, com os “alunos” a disputarem entre si a criatividade de um mal maior feito de mortes inocentes. Ser capaz de reduzir o outro a este nada é a vitória do terror. Ora a cultura árabe (a quem se atribui a invenção do zero, por junto com a Mesopotâmia...) não tem, longe disso, este exclusivo – não esqueçamos Hiroshima. A fractura civilizacional está, pois, na recusa da violência, no reconhecimento do outro como igual, na interrupção desta aritmética de morte. Há que começar algures em nós.

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