sexta-feira, junho 11

Palcos do tempo

Há dias que tento sem sucesso escrever um texto-encomenda em torno do tempo. A passagem destas horas tem sido experiência sensacionista rodeada de mortes, de miséria moral, de notícias tristes de um país que perdeu a ideia a velha ideia de carácter. Digo isto não tanto pela hipocrisia política, pelo nacionalismo serôdio, mas por experiências próximas, quase íntimas. Estando nisto, explode-me A Bomba com Woyzech e o seu drama fragmentado, também ele feito de miséria e morte, de esforço e grito. Os outros, segundo Georg Büchner, são um inferno portátil que nos remetem a cada momento para o pior de nós. Basta-lhes estar, nem precisam de ser. São eles, cada um dos outros, que rasgarão a golpes o destino daquele que nasce condenado. Apetece-me muito o teatro, feito de palavra e corpo, com uma verdade que não encontro há muito no palco. Aliás, desde que sinto regressar Deus como interrogação aos meus dias, penso muito em teatro. E o que tem isto a ver com o tempo?

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